A verdade

29 de Abril de 2009 – 15:44

Escrevo esta nota a todos os consócios que marcaram presença no pavilhão atlântico do passado dia 17 de Abril e que fizeram prova da civilidade e elevação com que as assembleias magnas do Clube podem decorrer.

Não tendo existido oportunidade para fazer a imediata e necessária defesa da honra, para não perturbar a elevação com que decorria, até então, a AG, acedi a custo ao pedido do Presidente da Mesa da AG para o fazer posteriormente.

Atesto a veracidade das minhas palavras, pela simples constatação dos factos:

- Estavam presentes na secção de sustentabilidade financeira, durante a parte da manhã, cerca de 50 delegados. Nessa altura foi votada a seguinte recomendação:

Manter sempre a relação com os adeptos na vertente “Sócio”, e nunca na vertente “Cliente”

- A recomendação foi devidamente enquadrada e explicada com as razões que podem ser lidas aqui.

- Dos delegados inscritos na secção, 22 são funcionários ou membros dos órgãos sociais que, legitimamente, se inscreveram como tal. Desses, a grande maioria encontrava-se presente.

- a votação foi de 15 votos a favor e 36 contra

- Dos 15 votantes a favor, 10 estão perfeitamente identificados, tendo-me dado pessoalmente nota da sua concordância com os meus pontos de vista.

- Vários desses delegados assinaram inclusive uma petição ao Conselho Directivo a requerer contas consolidadas (pedido esse que ainda aguarda resposta).

- No limite, apenas uma pequena minoria (de bloqueio?) dos delegados identificados como funcionários/órgãos sociais podem ter votado a favor da proposta.

- Fica provado que foram os membros dos órgãos sociais que chumbaram uma medida que recomenda que “os sócios não sejam tratados como clientes”.

Ou seja, na ânsia de não beliscar o Conselho Directivo, os próprios dirigentes do nosso Clube, num verdadeiro processo de autofagia, infligem ao Sporting Clube de Portugal golpes cada vez mais mortais. Restam-nos, em consequência, apenas 25 mil sócios efectivos pagantes.

De quem proferiu palavras injuriosas, aguardo apenas um pedido de desculpas. Sobretudo ao Sporting.

Pelo Sporting e pela verdade,

João Mineiro
Sócio 20.814

A minoria aparentemente dispensável

28 de Abril de 2009 – 11:11

O Presidente do CD Filipe Soares Franco oferece hoje aos adeptos e sócios do Sporting uma entrevista no jornal Record, em jeito de balanço (e de véspera de recandidatura), na qual volta a dedicar especial atenção ao grupo de dimensão variável (25% a 33%) de votos de sócios que bloquearam algumas das suas propostas ao longo do seu mandato, nomeadamente as que não constavam do programa eleitoral que submeteu a eleições há 3 anos atrás.

Das palavras de Filipe Soares Franco decorre hoje, como decorreu sempre, a noção de que estes sócios são um entrave e não um objectivo de reconquista. De facto, em 3 anos de mandato, o seu conselho directivo poucas ou mesmo nenhumas vezes mostrou vontade e desejo de acolher os pontos de vista divergentes, esclarecê-los e agir sobre os mesmos após a sua avaliação. Não podemos oferecer melhor prova disto mesmo aos sportinguistas do que o trajecto cumprido pelo Movimento Leão de Verdade ao longo destes últimos 2 anos, marcado por obstáculos, artifícios e demoras no cumprimento de todos os objectivos de esclarecimento aos consócios a que nos propusemos, pese embora o nosso comportamento de permanente observância das obrigações que os estatutos impõem e das mais elementares regras de civilidade, educação e correcto comportamento sportinguista.

Desta e de outras entrevistas fica sobretudo a confirmação de que Filipe Soares Franco não é de facto um homem virado para os sócios do Sporting, facto que aliás confirmou em diversas declarações ao longo dos anos. E fica também a noção de que não lhe custa perdê-los. O número de sócios efectivos pagantes que revelou na última AG foram apresentados como se de um facto incontornável e até pouco significativo se tratasse, merecendo como único comentário a constatação de que são ligeiramente superiores aos que encontrou quando assumiu a presidência do clube (embora certamente inferiores aos que lhe foram entregues quando assumiu funções como membro responsável dos órgãos sociais do clube, o que aconteceu há muitos anos e que é raras vezes referido pelo mesmo.

Como sócio do Sporting Clube de Portugal fico assim com a noção, cada vez mais clara, e que pude já constatar em AGs mais pequenas, nas quais Filipe Soares Franco esgrimiu argumentos com sócios que lhe apontaram erros crassos de percepção do fenómeno do associativismo desportivo e de mobilização de sócios e adeptos, que o meu presidente não me considera uma mais-valia do Sporting Clube de Portugal. Nem a mim, nem a todos os que no seu entendimento o bloqueiam (por discordarem da sua linha de rumo, objectivos e processos) nem à enorme “maioria de abandono”, de mais de 70% de sócios que já abandonaram a participação directa no futuro do clube, para a qual não apresentou nunca um projecto claro de reconquista nem sequer o entendimento claro de que não existe futuro financeiro, desportivo ou institucional sem promover activamente o seu regresso ao clube, o que só pode acontecer através de uma real mudança de paradigma.

Nota complementar: como era do nosso conhecimento há já algum tempo Filipe Soares Franco vai recandidatar-se. Será difícil, mas não impossivel, explicar o porquê dessa decisão, não pela incoerência mas pela falta de vontade e motivação que já confidenciou por diversas vezes, provavelmente furada pelo facto de não existir no status quo vigente um candidato conciliador e agregador que garantisse não só a eleição certa como também a persecução dos objectivos traçados e ainda a não menos indispensável certeza de que certos assuntos do passado ficam aí mesmo. No passado, por escrutinar e esclarecer aos sócios do Sporting Clube de Portugal.

A promessa de Franco que o porto cumpriu

23 de Abril de 2009 – 15:36

Enquanto debatemos entre nós, Sportinguistas, com detalhe quase legal, se o termo “criação de condições para”, incluido no manifesto eleitoral vencedor, permite ou não a Soares Franco afirmar que não prometeu, com exactidão, um pavilhão aos sócios no úlitmo acto eleitoral, parece que a promessa foi cumprida. Foi cumprida a 300km de Alvalade, por Pinto da Costa. Uma promessa um pouco cara é certo, é possível executar por custo inferior, mas ainda assim cumprida.

Saudades da Nave…

23 de Abril de 2009 – 2:30



Quem, como eu, esteve esta noite no Pavilhão do Casal Vistoso para assistir ao 2º jogo dos 1/4 finais da LP de Andebol que opunha o SPORTING ao ABC não pode deixar de sentir uma enorme nostalgia e um sentimento misto pela emoção que este jogo despertou, mas acima de tudo pelo ambiente fantástico criado pelos Sportinguistas que lá estiveram.

Para variar uniram-se as 3 claques (JL, TV e DUXXI) numa só e juntamente com alguns incondicionais das modalidades o Pavilhão das Olaias pegou “literalmente” fogo com o entusiasmo incessante com que os adeptos apoiaram a equipa leonina.

O Sporting vinha duma rara e super-moralizante vitória no Flávio Sá Leite. Com 2 inícios fulgurantes nas 1ª e 2ª partes, os andebolistas leoninos, comandados pelo carismático Paulo Faria, lideraram quase sempre o marcador, e só por uma vez consentiram a vantagem dos Academistas de Braga (13-14). Com uma igualdade ao intervalo de 14-14, o Sporting iniciou ao ataque declarado o 2º tempo, e conseguiu uma vantagem confortável de 3 golos que foi administrando ao longo da 2ª metade. A 2 minutos do fim e depois de novamente colocar a vantagem em 3 golos de diferença e no resultado final (30-27) todo o Pavilhão se levantou e cantou em uníssono até ao fim da partida, com todo o banco leonino em festa. Já estávamos nas 1/2 finais! Agora, que venha o próximo adversário!

Destaque especial para a presença de grandes figuras do Sporting: Manuel Brito – para muitos o melhor jogador de sempre do Andebol Leonino e um homem com H grande – esteve presente e vibrou intensamente. O nosso Ricardo “Coração de Leão” Sá Pinto foi lá igualmente dar uma força. Também alguns jogadores da equipa de Futsal, entre eles Zézito e João Benedito, eram dos mais entusiasmados. Uma nota para a presença de Paulo Bento e da restante equipa técnica, também no apoio ao nosso Andebol. Foi bonito de ver!

No meio de todo aquele entusiasmo ouvi um adepto mais velho exclamar:

“Isto também é Sporting! Para mim isto é que é o Sporting! Só de pensar que se tivéssemos o nosso Pavilhão nunca se teria perdido este elo de ligação aos sócios…! “

Enfim…não há coincidências!

Uma grande jornada de Ecletismo e uma noite de grande celebração Sportinguista!

VIVA O SPORTING!

As distorções do jornal Record

20 de Abril de 2009 – 11:09
Tag: AG

O jornal Record não é propriamente uma surpresa no que ao tratamento condicionado da realidade leonina diz respeito. Quem atento esteve ao último acto eleitoral sabe com o que contar por parte deste jornal. É simples percebê-lo, basta identificar os alinhamentos e relações pessoais entre os intervenientes, de um lado e de outro, para pelo menos colocar a hipótese de não estarem garantidas as condições de isenção no tratamento da actualidade do Sporting Clube de Portugal. Juntando essa identificação às constantes deturpações que este jornal faz dos factos é difícil considerá-lo uma fonte segura de informações sobre o nosso clube.

A AG de sexta-feira é mais um exemplo disso mesmo. Passados 3 dias da mesma, e portanto com tempo suficiente para esclarecer os seus vários jornalistas sobre o que lá se passou, sobre o que se votou e quais eram as condicionantes dessa votação, os editores do jornal Record continuam a publicar uma mentira que dita várias vezes passa a verdade: que a proposta de AG referendária não passou por uma escassa margem de votos, referindo os cerca de 72% que a proposta obteve em votos, identificando esse número como o valor simbólico que decorre da AG. Ignora o Record, custa-nos a crer que não propositadamente, que os cerca de 72% de nada valeram, pois em função das leis que regem este país a proposta tinha de recolher primeiro 75% dos votos dos presentes, condição prévia que não foi cumprida por outros números (cerca de 69%).

Mas alguns jornais desportivos vão mais longe. Após uma AG onde de facto, quer queiramos quer não, o que estava a votos era uma proposta de AG referendária e não a proposta de reestruturação financeira que precedia, proposta que convenhamos se apresentada nos moldes correctos e por um CD que congregasse união em redor da sua acção certamente passaria sem problemas, os jornais desportivos, com raras excepções, extrapolam sem grandes pruridos taxas de aprovação do universo leonino a Soares Franco, ao Conselho Directivo e inclusive á reestruturação, apesar do próprio presidente do CD ter deixado claro na AG que o que se votava era bastante concreto e circunscrito.

Aliás, à semelhança de outros momentos de votação, é frequente a extrapolação descabida dos resultados, associando ao voto de AGs que reúnem no máximo 2.000 associados o querer e sentir de um universo de quase 100 mil associados dos quais infelizmente já só 27 mil pagam as suas quotas. Ignoram os jornais desportivos, porventura por incompetência ou outra razão qualquer menos aceitável, que dificilmente poderemos concluir que os cerca de 70% de sócios que já viraram costas ao clube o terão feito por apoio, confiança e comunhão de pontos de vista com o rumo que o clube tomou nos últimos 10 anos, e que talvez importasse ouvi-los e perceber as razões do seu abandono para realmente perceber o que move a nação leonina, muito mais alargada, complexa e rica do que o ecossistema de apesar de tudo bravos 2.000 associados que ainda se reúnem em AG para decidir o destino do clube.

Prevê-se assim uma árdua tarefa para quaisquer candidaturas alternativas, aliás à imagem do que aconteceu à 3 anos atrás. Prova disso é a forma como o inquérito aos núcleos publicado pelo jornal O Jogo e apresentado na AG pelo CD como argumento a favor do sim foi realizado, facto que um dia esperemos que venha a público, para todos os associados perceberem como pode ser condicionada a opinião dos associados do Sporting Clube de Portugal.

Num país pequeno, onde as relações entre grupos e pessoas é estreita, e onde inclusive se verificam no contexto apresentado conflitos de interesses, com grupos económicos que detém meios de comunicação social determinantes a marcarem presença na estrutura accionista dos clubes, é difícil lutar pela verdade. Mas é para isso que muitos cá estão, a começar por nós.

A Esperança é Verde

18 de Abril de 2009 – 2:57
Tag: AG

A esperança é verde.
O ideal Sporting Clube de Portugal como os nossos pais e avós nos transmitiram, sem lhe hipotecarem nunca a história, os valores e o seu património ou subjugá-lo a interesses alheios, vive para justificar que cada vez mais lutem pela sua afirmação.

O Presidente do Conselho Directivo pede a antecipação de eleições que, em boa verdade, já devia ter solicitado quando decidiu propor uma nova proposta de reestruturação que altera de forma ainda mais profunda o DNA do Sporting Clube de Portugal do que a anterior que pelos vistos falhou. Avancem os ideais, programas e rostos (por esta ordem, que é a correcta) em sede eleitoral, que cada um de nós, sócios efectivos em condições de votar (aproximadamente 25% do universo de sócios do Sporting, como hoje anunciado), e esperançosamente muitos dos que já viraram aparentemente costas em desânimo (os 75% restantes, consequentemente) cá estaremos para as avaliar, ponderar, discutir, questionar e votar, num acto eleitoral que se espera, pela primeira vez em muitos, muitos anos, livre, justo, não condicionado e sobretudo participado.

Viva o nosso Sporting Clube de Portugal!

Ponto de Encontro LdV AG 17 de Abril

16 de Abril de 2009 – 20:28
Tag: AG

O movimento Leão de Verdade convida todos os sócios que queiram trocar algumas impressões e fazer em conjunto o trajecto rumo ao Pavilhão Atlântico a marcar presença no local e à hora que aqui propomos.

Vamos manifestar que somos acima de tudo Sporting Clube de Portugal.
Vamos votar NÃO.

Local: Praça da Expo, em frente à entrada do Vasco da Gama (lado Pavilhão Atlântico)
Hora: 19.30

Sócios - Consulta de Informação

15 de Abril de 2009 – 22:34

O Movimento Leão de Verdade, vem por este meio divulgar os documentos que irá solicitar à direcção para consulta, ao abrigo do art.20º/1/d dos Estatutos, de forma a obter um melhor conhecimento das matérias a discutir na AG de 17 de Abril.

Convidamos todos os sócios interessados a juntarem-se a nós, durante os dias 16 e 17 de Abril, de forma a formularem uma opinião livre e esclarecida relativamente às deliberações propostas.

Ao contrário do verificado em outras ocasiões, o Conselho Directivo não pode recusar o acesso a esta informação, dada a norma estatutária acima referida.

Para consultar a documentação, no edifício Visconde de Alvalade, basta utilizar o requerimento disponível neste link.

Guia Prático do NÃO

15 de Abril de 2009 – 17:40

Vários são os sócios do Sporting Clube de Portugal que, confusos com mais uma proposta de reestruturação financeira e com a sua apresentação a dois meses de eleições por um conselho directivo cessante me têm pedido razões simples, claras, compreensíveis para tomarem a sua decisão de voto nas próximas Assembleias Gerais de dia 17 de Abril e 8 de Maio.

Preconizando o Movimento Leão de Verdade, que integro, a defesa do associativismo, do ecletismo, da protecção do património dos sócios mas também da assunção do sócio como principal património do clube, há muito perdida, existem muito mais razões que as que em seguida refiro para chumbar os objectivos e mecanismos de um Conselho Directivo totalmente desalinhado com a história, pergaminhos, valores e via para o crescimento do Sporting Clube de Portugal.

No entanto opto aqui por partilhar um guia simples de razões objectivas e transparentes para o voto NÃO em ambas as Assembleias Gerais, aceitáveis para qualquer sócio que não tenha outro interesse que não o bem do Sporting Clube de Portugal, independentemente de ser considerar até agora apoiante, espectador ou discordante da actuação do Conselho Directivo em funções.

1. - Proposta de alteração transitória estatutária - 17 DE ABRIL DE 2009 - NÃO!
O argumento apresentado pelo Conselho directivo de que o modelo actual de AG não é prático e compatível com o debate construtivo e esclarecedor colhe e faz sentido.
No entanto, uma proposta séria e credível de modificação do funcionamento da assembleia geral de sócios passaria por um modelo permanente e não transitório que contemplasse a existência de uma sessão de debate aberta a todos os sócios em condições de participar, com apresentação dos esclarecimentos do conselho directivo proponente e contemplando a não menos importante troca de opiniões, sensibilidades e questões entre os sócios, seguida depois por uma sessão de votação referendária em dia e horas que permitissem a mais alargada participação possível. A proposta transitória e contextualizada ao tema proposto pelo Conselho Directivo permite concluir infelizmente, mais uma vez, que a proposta tem objectivos que não passam, primordialmente, pelo esclarecimento dos sócios e debate entre os mesmos mas sim pela aprovação rápida de medidas descontextualizas e deslegitimadas.

2. – Proposta de reestruturação financeira – 08 DE MAIO DE 2009 – NÃO!
Sabendo que o que é votado dia 17 não é ainda o modelo de reestruturação proposto pelo Conselho Directivo, a proposta de alteração transitória dos estatutos surge indexada, por iniciativa do CD, à referida proposta e nesse sentido consideramos não ter o Conselho Directivo em funções legitimidade para apresentar a votos a proposta que surge na base da sucessão de assembleias que terão lugar. Esta ausência de legitimidade assenta em três questões incontornáveis:

- uma questão de timing: consideramos não ter o Conselho Directivo cessante legitimidade para propor uma decisão cerceadora e orientadora do futuro estrutural do Clube a dois meses do acto eleitoral.
- uma questão de legitimidade programática: a proposta apresentada não constou do manifesto eleitoral proposto pelo Conselho Directivo vigente, ponto que, associado à questão de timing, agrava a falta de legitimidade na apresentação desta proposta.
- uma questão de legitimidade executiva: o presidente do Conselho Directivo que termina funções dentro de dois meses já se assumiu como ausente das opções eleitorais propostas aos sócios não assumindo, consequentemente, a execução do projecto que propõe, sendo que tornando todo o cenário ainda mais ilegítimo não apontou sequer a candidatura que garantirá aos sócios a execução do projecto que agora propõe.

Votar NÃO exige apenas bom senso, sportinguismo e uma leitura correcta dos factos incontornáveis que aqui partilhamos com os demais consócios.

Viva o Sporting,

Pedro da Cunha Ferreira
Sócio 9.576

A NORMA TRANSITÓRIA DA DIRECÇÃO EM TRÂNSITO

14 de Abril de 2009 – 12:13

Deliberar: verbo transitivo, do latim “delibrare “: Resolver, decidir, após discussão. (negrito e sublinhado)

É isto que a Lei, civil e comercial, bem como os Estatutos que actualmente existem no Sporting Clube de Portugal, “convidam” os Sócios a fazer.

A reunir em Assembleia Geral, discutir as medidas que afectem a Instituição, e depois, e apenas depois, decidir em consciência a aprovação ou não dessa medida.

A Direcção do Sporting Clube de Portugal, no passado dia 8 de Abril, dirigiu por sua vez aos Sócios um “convite” à aprovação de um artigo 78º dos Estatutos, uma disposição com carácter “transitório” que prevê que uma (e apenas uma) Assembleia Geral subsequente possa ocorrer “…sem período destinado a debate, procedendo-se, apenas, a votação…”.

Com este “convite”, constatamos que, por razões que a razão desconhece (ou não), a actual Direcção do Sporting Clube de Portugal parece ser da opinião que a discussão e o debate destas medidas antes da tomada de decisões não favorece os interesses do Sporting Clube de Portugal.

Muita tinta tem corrido sobre este “convite” e sobre o seu carácter “transitório”, e o Leão de Verdade, como é seu timbre, pretende dizer de sua justiça sobre esta matéria, com rigor, honestidade, e com algo que parece faltar em absoluto a esta Direcção: ponderação ética das questões.

A disposição transitória é, como o seu próprio nome indica, uma disposição destinada a acautelar uma situação de mudança. Serve para assegurar a correcta e justa conciliação entre as normas antigas e as novas que surgem para tomar o seu lugar. Etimologicamente, implica uma “transição”, ir de algum sítio para um outro.

Exemplos de normas transitórias no universo estatutário do Sporting Clube de Portugal serão então artigos como este:

“Artigo 75º

Até à próxima assembleia geral eleitoral, os dez membros do Conselho Leonino acrescentados na alteração Estatutária aprovada na assembleia geral de Dezembro de 1996 serão designados por acto conjunto do Presidente da Mesa da Assembleia Geral, do Presidente do Conselho Directivo e do Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar. (Aprovado em Assembleia Geral Extraordinária de 5 de Dezembro de 1996)”

Esta é uma verdadeira disposição transitória. Serviu para garantir a regular passagem de uma realidade com menos Conselheiros para uma nova realidade, com mais. Como tal, criou-se esta disposição, que acautelou essa transição.

Como está bom de ver, esta disposição nada acautela em termos de transição, tratando-se antes duma verdadeira norma ad-hoc, avulsa, “enxertada” nos Estatutos com a finalidade única de legitimar uma determinada forma de votação numa determinada Assembleia Geral.

Em primeiro lugar, cumpre salientar que esta norma é no mínimo, de legalidade duvidosa. Com efeito, encontra-se compreendida no conceito legal de assembleia geral, tal como a Lei a enforma, a componente de “discussão” das matérias objecto de deliberação NO próprio acto da assembleia. Doutrina e jurisprudência de Portugal são unânimes em considerar que uma Assembleia Geral de Sócios que não faça preceder uma deliberação de discussão não será uma Assembleia Geral em sentido próprio.

Assim, esta norma avulsa vem criar uma forma de Assembleia Geral sem debate e sem a componente de participação e discussão que a define como tal, gerando um mecanismo híbrido de votação que propicia que, no limite, na data da votação, os Sportinguistas possam e devam exercer o seu voto sem saberem NADA sobre o que vão votar.

Em segundo lugar, a inserção duma norma deste calibre abre um perigoso precedente para a inserção de normas estatutárias “provisórias” que derroguem a TOTALIDADE dos Estatutos do Sporting Clube de Portugal. Aceitando-se um cenário em que se mudam os Estatutos para a conveniência duma determinada Assembleia Geral, o que impede, em termos lógicos, que os Estatutos possam vir a consagrar direitos de voto especiais para certos Sócios durante um prazo “transitório”? Ou que restrinjam direitos de certos Sócios durante determinado tempo?

A norma proposta pela actual Direcção faz lembrar mais uma norma de Estado de Sítio ou de Lei Marcial. Verificadas certas condições, in casu a incapacidade de fazer aprovar os VMOCs pelas vias normais, a Direcção pretende modificar drasticamente o figurino existente de Assembleia Geral, só para conseguir a aprovação desejada.

Isto não é democracia, isto não é seriedade. Em democracia, a solução para um Projecto de Lei chumbado não é alterar a Constituição para, pela ausência de discussão prévia, facilitar a sua aprovação.

Mas, esquecendo os elementos jurídicos que inquinam o proposto Artigo 78º dos Estatutos, existem ainda considerações de ordem vária que o LdV não pode deixar de questionar:

Oportunidade

No período compreendido entre os dias 1 de Maio e 15 de Junho de 2009, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral tem total discricionariedade para marcar eleições, bastando para tal que cumpra a antecedência necessária de 15 dias.

Por outro lado, o corpo do referido Artigo 78º dos Estatutos prevê que a Assembleia Geral para decisão da reestruturação financeira, a ser decidida pelo proposto modelo de assembleia referendária se possa realizar até dia 31 de Maio.

Assim, os Sportinguistas estão numa situação em que a Direcção cessante lhes pede que aprovem uma medida estatutária que se aplicará para eventual aprovação duma ordem de trabalhos definida por essa mesma Direcção cessante.

O único “problema” é que, de acordo com a calendarização prevista para as várias Assembleias Gerais, bem como para as eleições, essa assembleia poderá ocorrer já sob a égide de uma nova Direcção, caso em que teríamos o insólito de os Sócios irem votar uma medida sugerida por uma Direcção que já nem se encontra em funções, medida essa que pode até ser contrária ao que a Direcção efectivamente legítima à data da Assembleia queira.

Assim, a Direcção do Projecto parece achar oportuno definir o futuro numa altura em que poderá bem já ser passado.

Legitimidade

Considerando o que está escrito supra, é inegável que, a pouco mais que um mês e meio (no máximo) das eleições, a actual Direcção tem a sua legitimidade no mínimo, mitigada. Mais do que isso, a sua legitimidade acha-se mitigada em proporção inversa ao tempo que falta para as eleições e à importância da medida a tomar.

É do mais elementar bom senso e sentido de pluralidade democrática que alguém que está de saída não deve tomar, a partir de determinado momento, medidas que vinculem os seus sucessores, que podem (e devem) ter outra política, outra visão da realidade e outro caminho para servir os interesses do Clube.

No entanto, assim é o Projecto. Indiferente à possibilidade de sucessão e de existência de alternativas, assume a sua já costumeira postura despótica de “aprés moi, le déluge”: venha a assembleia referendária, venham os VMOCs, e, como diz o povo “quem vier atrás que feche a porta”.

Igualdade de Armas na Discussão Referendária

Como não é possível ao Projecto suprimir “tout court” qualquer discussão de medidas estruturantes para a vida do Clube, entendeu aquele “ofertar” aos Sócios, por troca com o desparecimento da discussão em Assembleia Geral, uma aparência de contraditório e de debate: o “período de discussão pública”.

Assim, durante um período de duas semanas, os Sócios, de Norte a Sul, serão “esclarecidos” sobre as virtudes e defeitos da complexa operação de harmónio destinada à reestruturação financeira do Sporting Clube de Portugal, e que terá, como efeito último, a emissão de novas acções representativas de capital social do Clube, i.e., venda de mais percentagem do Clube a subscritores privados.

Durante este período, o Projecto terá ao seu dispor para “esclarecer” os Sócios:

  • Um jornal próprio (o do Sporting);
  • Um website próprio (o do Sporting);
  • A atenção indivisa da comunicação social, por ser o Projecto, para todos os efeitos, a voz que vincula o Clube.

Quem discordar dos VMOC terá, por seu turno, ao dispor para esclarecer os seus Consócios:

  • O que conseguir arranjar.

Não está previsto debate contraditório ou confrontação directa das duas posições. Nenhum Sócio terá púlpito para pedir à Direcção resposta ao que o apoquente quanto aos VMOCs, e a Direcção em momento algum terá que responder a seja o que for directamente.

Mesmo esquecendo o facto de o Projecto ter ao “serviço” da medida que defende meios de comunicação que são de TODOS os Sportinguistas, mesmo dos que não concordam, resulta evidente:

  • A total desigualdade entre os meios ao dispôr de adeptos e detractores dos VMOCs;
  • O total desaparecimento da contraditoriedade e discussão que existe nas Assembleias Gerais.

Assim, o Projecto, no seu esforço para “devolver o Clube aos Sócios”, oferece como contrapartida para deixar de haver discussão em Assembleia Geral…deixar de haver discussão seja onde for.

Ampliação da Base Eleitoral

Age de má-fé quem louva o aumento do número de Sócios votantes como uma vitória da democracia, demitida de interesses ulteriores e vocacionada para a “devolução do Clube dos Sócios”.

A alteração preconizada tem como efeito prático o alargamento do período de voto e a diluição da chamada (e temida) “minoria de bloqueio”, que sucessivamente chumba a venda a retalho do Clube nas Assembleias Gerais ditas “normais”.

Ora, esta medida tem que ser vista pelo que é: um expediente, um “atalho”, uma forma de fazer entrar pela “porta do cavalo” o que os Sócios não têm deixado entrar pela porta da frente.

Se visasse o incremento da democraticidade e da participação na vida do Clube, não era transitória, e não era vocacionada só para uma votação específica. Assim, a alteração dos Estatutos é, retomando uma comparação feliz de um dos meus companheiros do Leão de Verdade, um “Simplex” aplicado ao Sporting Clube de Portugal.

O “problema” é que o desaparecimento do (único) momento verdadeiramente contraditório entre o Sócio e a Direcção em nome da aprovação mais fácil duma medida destinada a vender um Clube centenário “à peça” não é algo que se possa ou deva ser simplificado.

Para que possamos perceber para onde vamos, é importante que saibamos de onde vimos. A actual norma estatutária, a actual maioria exigida e a actual discussão prévia às votações não existem por capricho. Existem por se considerar que actos de grande impacto na vida do Clube, como a alienação de património deste, não serão suficientemente legítimos a menos que aprovados por dois terços dos votos, devendo ser devidamente discutidos em Assembleia Geral.

Daqui resulta uma dupla exigência: a da maioria de 66,6% dos votos e da discussão desta medida, antes da sua votação, em Assembleia Geral.

Tudo isto são garantias. Protegem o Clube de acções estouvadas ao sabor do momento e obrigam a reflexão e discussão. Protegem o Clube de tiranetes que pretendam decidir o futuro do Clube sem levarem em linha de conta o que os Sócios querem para ele. Mais do que isso, as normas estatutárias cometem aos Sócios o dever de protegerem o Clube dessas acções estouvadas, dessas tiranias, o dever de se reunirem em Assembleia e discutirem o que querem para o futuro do Clube.

Tudo isto quer o Projecto fazer desaparecer. Este é mais um passo para tornar o Sporting Clube de Portugal numa empresa pura: transformar a venda do seu património, a venda de participações sociais do Clube, em última análise, a venda do Clube em si, num mero acto de gestão, numa realidade trivial da vida do Clube, podendo como tal ser aprovada sem discussão prévia.

Por não considerar “coisa pouca” a venda do Sporting Clube de Portugal, por não considerar “coisa pouca” a celebração de democracia participativa que são (ou deveriam ser) as Assembleias Gerais do Sporting Clube de Portugal, o Leão de Verdade opõe-se ferozmente, mas sempre com a verdade, a esta “disposição transitória”.

Fica à consciência dos Sócios do Sporting Clube de Portugal que “convite” aceitar: o para uma festa onde serão livres de falar, discordar, e onde só lhes será pedida a sua decisão depois de ouvida a sua opinião, ou o para um funeral onde deverão carregar e sepultar, em silêncio absoluto, o caixão da sua participação na vida do Clube, aos pés e sob o olhar majestático do Projecto.